Com características únicas que retratam a cultura indígena e a fauna sul-mato-grossenses, trabalho de artesãos reforça importância das raízes regionais
Para fortalecer a identidade cultural de Mato Grosso do Sul, as artesãs Andréia Camila Dias e Kênia Silva de Oliveira Farias buscaram em elementos que representam a cultura local, uma forma de contar a história do estado e da cidade onde vivem. Em Três Lagoas, elas produzem peças personalizadas que apresentam traços da cultura indígena e de animais que compõem a fauna sul-mato-grossense. Este trabalho atualmente está exposto na mostra coletiva “Casa do Brasil Central, do Cerrado ao Pantanal”, no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), no Rio de Janeiro (RJ).
Movida pela curiosidade, coragem e vontade de aprender algo novo, Kênia Farias se dedica há 19 anos à produção de cocares em String Art – técnica de trabalho em prego e linhas e pinturas estilizadas em madeira. Assim, as peças que possuem traços indígenas e cores que fortalecem essa cultura, além de animais típicos da região, são uma maneira de expressar o valor que esses povos têm na construção da identidade cultural do estado.
Ela conta que, com o tempo, se apaixonou e ganhou confiança naquilo que produzia. Mas, para que isso acontecesse, a pesquisa de campo foi parte fundamental do processo. “Como se trata de um elemento que tem uma importância muito forte para esses povos, eu ficava em dúvida se meu trabalho poderia ser mal interpretado. Tive a oportunidade de apresentar a minha arte para um cacique e para a minha surpresa ele ficou encantado com os cocares e disse que é uma forma de levar essa cultura tão importante para outros lugares”, comenta Kênia.
Já a artesã Andréia Camila Dias faz seus trabalhos em biscuit, uma massa de modelar, e busca inspiração para suas peças em aves e animais típicos que compõem a fauna do bioma Pantanal. Ela explica que retratar a riqueza da região foi umas das formas que encontrou de conscientizar as pessoas sobre a importância de preservar o meio ambiente.
“No início, eu escolhi me inspirar em animais que via aqui na lagoa da cidade, como as capivaras, araras canindé, garças, tuiuiús e até frangos d’água. Busquei retratar a flora também, nessa região temos muitas madeiras secas que uso nos meus trabalhos para representar todo esse cenário. Nós somos parte desse ambiente e precisamos cuidar de toda essa riqueza, por isso, busco mostrar a necessidade de cuidarmos desse espaço”, conta Andréia.As peças das profissionais, que fazem parte da Associação Costa Leste de Artesãos do Mato Grosso do Sul (ACLAMS), foram selecionadas pelo designer de artesanato de Renato Imbroisi, para compor a mostra exposta no CRAB. Além de Três Lagoas, participam, pelo estado, artesãos de Campo Grande, Bonito, Jardim, Corumbá, Miranda e Bodoquena. A exposição também inclui trabalhos dos outros estados do Centro-Oeste – Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal.
Para Kênia Farias, expor seus produtos no CRAB é uma oportunidade única. Aalém da mostra estar aberta para visitantes de todo o país, é um momento para estabelecer novas parcerias. “Ser reconhecida pelo meu trabalho é um grande estímulo, não só para mim, mas para todos os artesãos. Trabalhamos bastante para chegar em momentos como esse, e ver nosso trabalho em um espaço tão grandioso é gratificante. Vemos que vale à pena e que podemos ir longe, é sem dúvidas um incentivo para nos aprimorarmos mais”.
De acordo com Andréia Dias, a exposição coloca em pauta trabalhos e discussões importantes que envolvem a cultura e o artesanato local. “É uma oportunidade muito grande, saber que seu trabalho está exposto em uma mostra como a do CRAB. Eu vejo o reflexo positivo dessas inciativas quando as minhas peças vão para fora do país. O Brasil está cheio de talentos e ser reconhecida e convidada para mostrar a minha arte para o mundo todo é inspirador”, complementa Andréia.
Andréia Camila Dias e Kênia Silva de Oliveira Farias participam da exposição “Casa do Brasil Central, do Cerrado ao Pantanal”, junto a outros profissionais de Três Lagoas, entre eles: Suely de Lima Antônio, Vanessa Hernandes, Marluci de Carvalho, Ana Silvia dos Santos, Fabiana Félix, Sylvia Nakamura, Márcia Nakamura crochê, Maria Aparecida Pimenta, Vanessa Aparecida Soares, Fabiana Domingues, Ivan Murgi, Rosana Rodrigues Lopes e Wilson Narciso.
A mostra é gratuita e ficará aberta para visitação até outubro, de terça-feira a sábado, das 10h às 17h. O CRAB fica na Praça Tiradentes, no Centro do Rio de Janeiro (RJ).
Sobre o CRAB
O Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), criado em março de 2016, em um prédio histórico, completa seis anos de atividades reforçando sua missão de promover o artesanato nacional e contribuir para qualificar a imagem dos produtos feitos à mão no Brasil.
Em suas galerias estão ou passaram importantes trabalhos de artesanato, revelando histórias, origens e territórios. Atualmente, abriga uma coleção de mais 1.500 itens de todos os tipos, que representam a expressão da cultura popular e da criatividade brasileiras. Entre as obras mais significativas, estão algumas cerâmicas de Zezinha do Vale de Jequitinhonha (MG), de João Borges (Teresina-PI), João das Alagoas (Capela-AL), Maria Sil (Capela-AL) e as esculturas em madeira de Abelardo dos Santos (Ilha do Ferro-PI).