Os produtos artesanais são expressões autênticas de uma região e refletem tradições que, muitas vezes, são passadas de geração em geração. Ao acessar novos mercados, os artesãos têm a oportunidade de compartilhar a história e os costumes de onde estão inseridos, promovendo uma maior valorização do patrimônio cultural brasileiro no exterior.
Para possibilitar essa conexão com compradores internacionais e fomentar a geração de renda para os profissionais sul-mato-grossenses, o Sebrae/MS, em parceria com a Apex Brasil, realizou visitas para aproximar os artesãos de Campo Grande de clientes estrangeiros, oriundos de países como Peru, Itália, Irlanda, França, Emirados Árabe e Estados Unidos. A iniciativa foi realizada na última semana, entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro, como parte da programação da Rodada Internacional de Negócios.
De acordo com a analista-técnica Sebrae/MS Danielle Muniz, os convidados puderam conhecer o processo de produção local e entender o contexto em que os artesãos estão inseridos. Além disso, as visitas também proporcionaram uma troca cultural e novas oportunidades de negócio.
“O exterior clama por produtos diferenciados e é importante mostrar que Mato Grosso do Sul tem potencial e uma cultura riquíssima. Quando trazemos o comprador aqui, ele consegue ver a realidade, sentir a energia e conhecer mais sobre a história daquele artesão e daquele povo, no caso do artesanato indígena. Então, é uma iniciativa que promove a interlocução, fazendo uma ponte entre as pessoas e gerando negócios. Dessa forma, garantimos renda para esses artesãos e fortalecemos a economia criativa no nosso Estado”, expôs a analista-técnica.
A diversidade e a qualidade dos produtos sul-mato-grossenses causaram boas impressões nos compradores internacionais, segundo a analista da Gerência de Competitividade da Apex Brasil, Adamita Mizuno Inoue, o que representa um passo importante para o acesso dos artesãos aos novos mercados.
“Percebemos um entusiasmo nos compradores, o que sinaliza um potencial fortalecimento das relações comerciais, indicando que a oferta artesanal atende tanto às expectativas de qualidade quanto à demanda por produtos que carreguem um sentido cultural profundo. É provável que essa visita resulte em novas oportunidades de exportação e em um reconhecimento mais amplo do valor artístico e cultural do artesanato da região, beneficiando diretamente os artesãos locais e contribuindo para o desenvolvimento do setor”, pontuou Adamita.
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Economia criativa e valorização cultural
A economia criativa vem ganhando cada vez mais destaque. Esse modelo econômico se baseia na geração de valor a partir da criatividade e da inovação, conectando as tradições e identidades locais a produtos. No contexto do artesanato, essa economia promove a confecção de peças autênticas que refletem a cultura e a história de uma comunidade, transformando o trabalho manual em uma forma de expressão artística e em uma fonte significativa de renda.
Um exemplo desse cenário é a Aldeia Marçal de Souza, no bairro Tiradentes, em Campo Grande, reconhecida como a maior aldeia urbana do Brasil, com mais de 600 habitantes. A comunidade é habitada, principalmente, por membros da etnia Terena e se destaca na produção artesanal com esculturas e utensílios feitos em argila, além de biojóias e pinturas em que retratam a fauna e a flora sul-mato-grossense.
Durante a visita dos compradores internacionais, as peças foram expostas no Memorial da Cultura Indígena “Cacique Enir da Silva Bezerra”. Para a gestora do local, Maria Auxiliadora Bezerra, o contato com esse público foi muito relevante para divulgar o trabalho da comunidade.
“É uma valorização muito importante, porque isso nos traz visibilidade. Somos mais de 15 mil indígenas em Campo Grande, e o indígena é artista, é artesão por excelência. Nosso Memorial da Cultura Indígena é representado por um coletivo de mulheres, de mães solos, muitas em situação de vulnerabilidade, que teoricamente não teriam o emprego formal, e isso proporciona o fortalecimento da cultura, do artesanato e de renda”, destacou.
A conexão com a cultura dos povos originários de MS foi algo que despertou em alguns dos clientes internacionais uma grande identificação como é o caso de Miguel Lopes, do Peru, que pertence ao povo Yanesha. “Vim para conhecer e buscar uma troca com os artesãos daqui e quem sabe um intercâmbio comercial. Somos povos irmãos e vi muitas semelhanças nos trabalhos”, comentou.
O grupo também conheceu o espaço de outros artesãos de Campo Grande, como a Maria Karaguatá, que produz biojóias com ornamentos feitos em cerâmica. A artesã ressaltou a importância do encontro para esclarecer dúvidas. “Foi uma experiência muito boa pois tive um contato mais próximo com os compradores e pude entender as expectativas deles. O Sebrae tem sido um apoio fundamental para que as vendas internacionais aconteçam, promovendo eventos e cursos de capacitação. Venho me preparando para esse mercado e sei que ainda há muito o que melhorar, mas já me sinto mais segura e preparada”, declarou a artesã.
Um ponto turístico da Capital, a Casa do Artesão foi outro espaço que recebeu o grupo. O local apresenta para o público peças produzidas por diferentes profissionais e, segundo coordenadora do local, Eliane Torres, receber compradores internacionais foi de suma importância para trazer mais visibilidade ao trabalho desenvolvido em Mato Grosso do Sul.
“Esse contato é de extrema relevância para a valorização da nossa cultura, do nosso artesanato regional. A Casa do Artesão é uma unidade da Fundação de Cultura, que visa a comercialização e a exposição do artesanato regional, então são vários artesãos que dependem financeiramente deste espaço. Por isso esse fomento ao artesanato é tão importante para nós, principalmente porque estão nos colocando em evidência diante do mercado internacional”, esclareceu.
Produtos artesanais, além de transmitirem heranças culturais, agregam valor emocional para os consumidores, que buscam autenticidade e exclusividade. Esse foi um dos pontos que mais chamou a atenção dos clientes estrangeiros, como Housen Tarrab, que veio de Dubai em busca de itens para decoração, principalmente de hotéis no Oriente Médio. “Vim procurar peças diferentes para compor nossos projetos, descobrir novos produtos e fazer contatos para encomendas futuras”, comentou.
Já David Cambioli, comprador da Itália, apreciou a qualidade das peças sul-mato-grossenses. “Vim para conhecer o artesanato local, pois na empresa onde trabalho, já importamos trabalhos do mundo inteiro e faltava do Brasil. Trabalhamos com compra e venda de artesanatos sustentáveis e aqui tem muitos produtos interessantes. Sempre viajo e conheço diversos lugares e fiquei impressionado com o que vi aqui”, concluiu.
Mais informações estão disponíveis aos empreendedores por meio da Central de Relacionamento do Sebrae, no número 0800 570 0800.