Empresária Juliana Trombini, com apoio do Pró Pantanal, foi expor seu produto artesanal nas duas principais feiras de produtos orgânicos e alimentos saudáveis do país
A descoberta da intolerância à lactose fez com que a moradora da zona rural de Pedro Gomes, Juliana Moro Trombini, mergulhasse em pesquisa para descobrir produtos que não a fizessem passar mal. Isso aconteceu em 2014. Como manteiga estava na lista dela como indispensável, descobriu a manteiga Ghee. Só que o primeiro contato com produto disponível no mercado fez ela desanimar, pelo cheiro e textura. Era tudo o que ela precisava para empreender. Agora, oito anos depois, a Soul Leve é referência em Mato Grosso do Sul e prepara estratégia para reposicionamento da marca no mercado nacional de produtos orgânicos.
A empreendedora vivenciou um pouco do passado e lembrou de onde saiu nesses últimos dias porque sua empresa assumiu uma nova posição. De acordo com Juliana, para dar um passo futuro é importante, primeiro, agradecer o que se conquistou. Com apoio do Pró Pantanal, iniciativa do Sebrae, ela conseguiu levar sua manteiga ghee para duas das principais feiras de produtos orgânicos e de alimentos saudáveis do país, a Bio Brazil Fair e Natural Tech, que ocorreram entre 8 e 11 de junho, em São Paulo. A Fazenda Soul Leve produz banha de porco, cúrcuma, ghee de nata e ghee noisette.
A exposição do produto dela para grandes redes e fornecedores, além do contato direto que teve com consumidores, permitiu que a empreendedora recebesse feedback direto e pudesse descobrir com grau mais apurado como o produto dela está inserido no mercado que ela caminha para entrar. Além da Soul Leve, outras duas marcas também estavam presentes nas feiras.
“Para nós, a feira foi um divisor de águas. Somos uma empresa pequena, sem acesso a grandes digital influencers, mas na feira havia muitos compradores de peso. Eles puderam provar e confirmar os diferenciais que temos, comparar com produtos similares. Foi uma oportunidade para as pessoas que não conheciam avaliar cor, aroma, sabor, textura. Houve grandes compradores e grandes redes que experimentam nosso produto, e elogiaram”, conta Juliana Trombini.

Como primeira grande feira que participou, a empresária voltou dos eventos nesta segunda quinzena de junho com o objetivo de traçar novas estratégias para conseguir continuar caminhando com a empresa. “Há outras manteigas ghee no mercado, com preço abaixo do nosso. Queriam que a gente equiparasse o nosso preço com o do concorrente. A feira serviu para mostrar pra gente o nosso valor”, relata.
Conforme Juliana, a experiência que teve nos eventos a fez recordar das tentativas de acessar compradores e abrir mercado, mas descobrir que nem sempre a porta fica aberta na primeira tentativa. “Já teve casos de eu ter que mandar R$ 500 de amostra e depois a gente não receber retorno. Na feira, os compradores conheceram a gente, puderam ver o produto.”
Vitor Gonçalves Faria, responsável pela área de sustentabilidade do Sebrae/MS, indica que apoiar os pequenos negócios para acessar diferentes mercados é uma medida que contribui para a empresa agregar valor e consolidar a marca. “Essa ação é convergente com as ações do Pró Pantanal e a atuação do Sebrae em fortalecer a ação dos pequenos negócios. A empresária já vem trabalhando com o Sebrae desde 2018, quando houve o apoio na agroindústria caseira dela; houve uma evolução para que agora, em 2020, ela alcançasse para ter uma pequena indústria. A Soul Leve é a primeira empresa do Estado a ter o Selo Arte. O Sebrae não podia deixar ela de fora e viabilizou essa exposição na feira”, explicou Vitor Faria.
O que levou Juliana a empreender é uma mistura de empreendedorismo de oportunidade, com um pouco de necessidade. No Brasil, 50,4% é a taxa de empreendedorismo por necessidade, enquanto os demais 49,6% são por oportunidade. Esses dados são de 2020, da pesquisa realizada pelo Sebrae, em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), e corresponde ao Global Entrepreneurship Monitor (GEM) no país.
Apostar no futuro e investir

A certificação do Selo Arte (Lei número 13.680, de 14 de junho de 2018, com Decreto número 9.918/2019) representa na validação de boas práticas e medidas sustentáveis e artesanais, agregando qualidade, simplificação da burocracia de registro e comercialização, permissão para venda a nível nacional e possibilidade de inspeção e fiscalização com natureza prioritariamente orientadora.
Para garantir o selo, a empresária fez investimentos. Essa aposta deixou o negócio e a empreendedora descapitalizados. Além disso, os dois últimos anos de pandemia e de incêndios no Pantanal e regiões próximas causaram impactos negativos na economia dos pequenos negócios, com reflexos diretos para a Soul Leve.
“A gente é pequeno, nos apertamos muito para conseguir construir a fábrica com capital próprio. Ficamos descapitalizados e o ano de 2021 foi um ano muito difícil para gente. E o 2022 começou lento. E entendo que isso é para muitas pessoas também. Sem o Sebrae, a gente ia viajar (para as férias) sem dinheiro no bolso, por exemplo, nem sei como ia ser”, reconhece Juliana.
Com o apoio do Pró Pantanal, a possibilidade de disputar de frente com grandes players do setor de produtos orgânicos criou um desafio enorme para a empresa de Juliana. E dificuldades surgem, mesmo quando não se espera por elas. Minutos antes de começar a visitação nas duas feiras, os cartões de visita e material gráfico da Soul Leve desapareceram.
“A gente nem tinha cartão de visita, levaram no primeiro dia nossas caixas. A gente anotava no papel com caneta. Mas isso ajudou, a gente conversou com tanta gente, erámos três pessoas e atendemos o que deu, pegamos contatos quentes. Não sei se com os cartões isso ia ter acontecido, talvez seria só entregar o cartão e não teria tanta troca, foi um diferencial nosso”, analisa Juliana. Por dia, a organização das feiras informou que visitaram o local em torno de 20 mil pessoas.
Desafio tem no começo e na caminhada

Para chegar na etapa atual de posicionamento de marca para o mercado nacional, a Fazenda Soul Leve antes precisou passar por degraus. Começou na cozinha da casa de Juliana, na fazenda onde mora até hoje. A primeira manteiga ghee que fez foi a partir da nata que estava congelada no refrigerador dela. Quando identificou que o produto que ela fazia para o próprio consumo daria para ser vendido, além de descobrir que a intolerância à lactose era um tipo de alergia que afetava mais pessoas, foi o momento de fazer vendas pontuais. No país, pesquisa Datafolha, divulgada em 2019, identifica que 35% da população acima dos 16 anos relata algum tipo de desconforto digestivo após consumo de derivados de leite. Isso representa cerca de 53 milhões de brasileiros.
Juliana Trombini recorreu ao Sebrae quando notou a necessidade de autorizações para poder vender localmente, por meio do SIM municipal. Aos poucos, o mercado foi expandido até chegar o momento da venda online e possibilidade de alcançar quase todos os estados brasileiros, com pelo menos um ponto de venda. Por meio de consultorias do Sebrae, em 2020, a Soul Leve obteve o selo Arte e assegurou esse patamar nacional porque certificou o produto da empresária como de origem animal elaborado de forma artesanal, com receita tradicional.
“Até a feira, eu me sentia pequena. Eu ficava refém, era lesada só para tentar ganhar mercado. Teve cliente que foi para lá para visitar a gente e que queria conhecer pessoalmente quem era que produzia. Eu nem tinha noção dessa influência que uma empresa pode fazer na vida de uma pessoa. Nunca esperava isso. Eu moro na fazenda, sou uma pessoa simples. Fui tudo uma grande surpresa. Agora que a gente comprovou a nossa qualidade, isso me deu segurança para me impor mais, de me posicionar no mercado”, assegura Juliana Trombini.
Pró Pantanal
O Pró Pantanal – Programa de Apoio à Recuperação Econômica do Bioma Pantanal é uma iniciativa do Sebrae para fomentar atividades econômicas nos eixos do turismo, da economia criativa e do agronegócio existentes no Pantanal. O programa ainda tem apoio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Federação das Associações Empresariais de Mato Grosso do Sul (FAEMS), Instituto do Meio Ambiente de MS (Imasul) e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).
Para obter mais informações sobre o programa Pró Pantanal e suas ações, fale com o Sebrae, pelo pelo número 0800 570 0800. Visite o site oficial do programa clicando aqui.