Cláudia Medeiros não nasceu no Pantanal, mas foi nele que encontrou seu lugar no mundo. Gestora cultural de alma inquieta, chegou ao Mato Grosso do Sul ainda jovem e encontrou um propósito: dar voz a uma tradição que estava se perdendo. Em 2002, o Sapicuá Pantaneiro nasceu como um projeto de pesquisa, mas logo se transformou em um movimento que resgatou a arte da faixa pantaneira e, posteriormente, tornou-se um negócio de sucesso, com o apoio do Sebrae/MS.
Tudo começou com uma pergunta simples da empreendedora: Quem ainda faz a faixa pantaneira? Esse item, também conhecido como faixa paraguaia, é um acessório tradicional dos peões que trabalham no Pantanal, utilizado para dar sustentação à coluna durante as longas cavalgadas. Esse artesanato também pode ser aproveitado de outras formas, seja na decoração, na moda e nas artes.
Cláudia percorreu fazendas, conversou com moradores e descobriu que a técnica de tecelagem da faixa pantaneira estava à beira do esquecimento. Foi então que encontrou Dona Marli Campos, uma das últimas faixeiras do Pantanal. “Ela me disse que o tear estava guardado, que quase ninguém comprava mais. Mas eu insisti: ‘Vamos fazer de novo’”, lembra Cláudia.

A partir daí, iniciaram-se oficinas pelo Pantanal, transformando espaços como fazendas e escolas em pontos de cultura para difusão das técnicas da faixa pantaneira. Segundo Cláudia, foi assim que o projeto conseguiu trazer o artigo novamente para o uso cotidiano, para a prática da tecelagem e para a circulação desse produto dentro da região.
O uso começou dentro das famílias e, com o tempo, passou a atrair a atenção do turismo. “Automaticamente essa venda foi acontecendo dentro das pousadas, também com a participação em feiras e eventos, onde eu levava a faixa junto e essa comercialização então foi surgindo naturalmente”, afirma a empreendedora.
O caminho empreendedor, no entanto, não foi fácil. Cláudia enfrentou desafios financeiros, burocráticos e até emocionais. Em muitos momentos pensou em desistir, mas algo sempre a fazia continuar. Porém, a chegada da novela Pantanal, em 2022, foi um divisor de águas. As faixas pantaneiras ganharam visibilidade nacional e as encomendas dispararam. “Foi emocionante ver nossas faixas nas cenas da novela, saber que estávamos contribuindo para contar a história do Pantanal”, diz Cláudia.
Com o tempo, o projeto expandiu-se para outras técnicas artesanais, como a cartucheira e os bichinhos do Pantanal, sempre com foco na sustentabilidade e na valorização da mão de obra local. Hoje, o Sapicuá Pantaneiro é uma marca consolidada, com produtos que vão de faixas e bolsas a pijamas e acessórios. Mais do que uma marca, tornou-se uma rede de mulheres e homens que tecem sonhos. Diversos artesãos independentes integram o coletivo, que, para Cláudia, representa o maior legado do projeto.

“O coletivo começou agregando todas essas artesãs que foram sendo formadas durante esses anos todos. Nós temos artesãs em Coxim, Aquidauana, Rio Verde, Campo Grande, Corumbá. Então, o coletivo é construído a partir desses artesãos, dessas artesãs e artesão. Também é importante dizer que os homens gostam muito de tecer a faixa pantaneira”, disse.
Horizonte de oportunidades
Para os próximos passos, a empreendedora sonha em expandir o projeto, levar a faixa pantaneira para outros países e fortalecer a rede de artesãos que o Sapicuá ajudou a formar. Essa perspectiva ganhou força com a participação na Missão Internacional do Sebrae/MS ao Chile, em 2024, voltada exclusivamente para mulheres empreendedoras. Cláudia integrou a delegação por meio da Jornada Global do programa Sebrae Delas, que fomenta o empreendedorismo feminino. A experiência ampliou seus horizontes.
“O Sebrae trouxe grandes oportunidades para o Sapicuá Pantaneiro. Primeiro, uma rede de mulheres, que incentiva muito a gente, eleva a nossa autoestima porque têm muitas histórias de apoio. Atualmente o Sebrae me ajuda a estruturar principalmente a questão da gestão. E eu estou sempre com objetivos, com metas, me faz olhar para o futuro”, acredita.
E, enquanto o tear continua a girar, o Sapicuá Pantaneiro segue ativo, afinal, para Cláudia, empreender é mais do que construir um negócio; é tecer um legado.
É sobre transformar vidas, valorizar tradições e criar um futuro onde a cultura pantaneira continue viva e pulsante
O Sapicuá Pantaneiro possui pontos físicos em Aquidauana e Campo Grande, também pode ser encontrado nas redes sociais ou clicando aqui.
Para mais informações sobre as ações do Sebrae, entre em contato pela Central de Relacionamento no número 0800 570 0800 ou acesse o site ms.sebrae.com.br.